O BAIRRO DA GRAÇA

A Graça - zona de Lisboa localizada numa das colinas mais elevadas da capital, é ponto de paragem e visita obrigatória para quem visita Lisboa. É a partir do Miradouro da Graça que as vistas são as mais belas. É ali que centenas de pessoas de todos os cantos do Mundo, param para observar a cidade, o Castelo, o Tejo e ao fundo, o Cristo-Rei que estende os braços como que a abençoar quem cruza o Tejo e toda Lisboa. 

Ali, em 1371, os frades Agostinhos circulavam junto daquele miradouro entre os seus afazeres. Foi nesse mesmo ano que, por ordem de D. Fernando que esta zona passou a estar dentro das muralhas da cidade. A Graça nesta altura não era mais que o Convento de Santo Agostinho - que posteriormente assume o nome de Convento da Graça, lado a lado com campos de cultivo. 


Aquela zona não era de todo a predileta, ou "in" para se residir, no entanto os nobres viram esse ponto como uma oportunidade de ali construírem os seus sumptuosos palacetes. De entre os diversos palacetes ali edificados dou destaque à Vila Sousa e ao Palácio dos Senhores da Trofa. 

Foi com o terrível sismo de 1755 que a grande migração para a Graça teve início. Foi entre 1880 e 1910 que surgiram as vilas operárias. As vilas operárias eram conjuntos habitacionais mandadas construir pelo magnatas que ali residiam ou que ali tinham os seus negócios ou fábricas. Estes facultavam habitação aos seus trabalhadores mediante pagamento de renda, exemplo disso: Vila Berta e Vila Estrela de Ouro. 


As famílias vinham de Lisboa mais maioritariamente de fora da cidade, um dos pontos de grande desenvolvimento e crescimento foi a construção da Estação de comboios de Santa Apolónia. Agora vinha um casal, depois outro que até era da família, outro e outro. Não era só um local onde viver, um teto, eram famílias que nasciam e cresciam lado a lado. As crianças brincavam na rua, ali se faziam homens e mulheres e muitas das vezes acabavam por ficar a residir no mesmo bairro. Era a união. A amizade. Os laços afetivos que se criavam, e se estendiam pela vida. É aqui que surge o espírito bairrista. Era o tempo do "vou pedir um copo de arroz à vizinha". Para muitos esse tempo acabou, as novas gerações pedem tudo por mensagem a plataformas online. Há pouco contacto humano. Os vizinhos já não se conhecem, já não se pedem "copos de arroz" para terminar o jantar.

 

Nós aqui somos velha guarda e, ainda vivemos o "espírito bairrista" nascido nestes locais. Ainda pedimos o "copo de arroz", "duas cebolas" ou "ovos" à vizinha, na promessa de devolver na próxima vinda do supermercado. Nós ainda batemos à porta quando não vemos aquele vizinho mais velho. Ainda perguntamos pela saúde da vizinha. Ainda jogamos à bola com o filho e filhos dos vizinhos no pátio exterior.

Agora, vou só ali pedir 2 cebolas à vizinha que me esqueci de comprar e aproveito para lhe perguntar com vai a neta bebé...

Lugares com alma, com alma d'gente... 

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